sábado, 26 de junho de 2010

A fé como uma aposta

Falar de Deus aos que não creem

Thomas é um jovem cientista agnóstico que teve a boa ideia de querer se casar com uma filha de pastor. Então, o sogro, depois de algumas discussões que se imaginam como intensas, escreveu uma carta ao futuro genro para "explicar-lhe a fé cristã". Pode-se ler esse pequeno livro ("Lettre à mon gendre agnostique pour lui expliquer la foi chrétienne" [Carta a meu genro agnóstico para explicar-lhe a fé cristã], Ed. Labor et Fides, 2010, 102 páginas) em menos de duas horas, e a forma epistolar torna sua abordagem simpática.

A reportagem é de Marie Lefebvre-Billiez, publicada na revista Réforme, n° 3374, 24-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Antoine Nouis começa com um enigma: como é que o cristianismo pôde se difundir tanto assim, já que o seu fundador, Jesus Cristo, morreu jovem, abandonado por todos os seus? Não é necessário levar a sério o testemunho dos seus discípulos que afirmam tê-lo visto novamente vivo depois da morte? Sobre essa base, o pastor reformado propõe uma reflexão em dois tempos: aquilo que a Bíblia diz sobre o homem, com uma análise do relato da Criação e os seus dois personagens emblemáticos, Adão e Eva. E depois aquilo que a Bíblia diz de Deus, aquele absoluto que se "restringiu", para que o homem exista livremente. Por fim, Antoine Nouis propõe a fé como "uma aposta e uma luta". Por isso, lança o desafio de tentar: "O que você arrisca?".

Não encontramos no livro palavras incompreensíveis de teologia, nem afirmações dogmáticas peremptórias. Mas muitas referências aos filósofos e aos teólogos judeus, que põem esse livro em um nível bastante intelectual. Para Guy Belestier, secretário nacional encarregado da coordenação inter-regional para a evangelização da Igreja Reformada francesa, esse livro é "muito denso, rico de coisas sobre as quais se pode refletir e discutir, com narrações interessantes", como por exemplo "as pulgas na orelha do elefante".

Porém, a obra não deve ser separada do seu contexto: "Ela se dirige a uma pessoa já em contato com a religião por meio da futura mulher e do sogro. É a consequência de um diálogo. Dirige-se, portanto, a pessoas que têm o desejo de ir além, de entender e de pôr questões. Não é para não crentes que põem um outro tipo de questões, como 'Por que o mal?'. Não se fala disso".

Segundo Guy Balestier, propôr a fé como uma aposta, exortando a experimentá-la, é uma coisa muito moderna e pertinente para um cientista. Isso põe a problemática em uma dinâmica triangular: compreender, crer, praticar. "Há muitos caminhos diferentes que levam à fé. A frase, bastante evangélica, de 'belonging before believing' (pertencer antes de crer) é um dos tantos possíveis. A pessoa é levada ao caminho da vivência religiosa por uma comunidade que a leva. 'Viva as coisas e você vai ver!'". Entretanto, Guy Balestier adverte: uma pessoa que enfrente esse tipo de percurso terá a necessidade de ser acompanhada, além do livro.

Liberdade revolucionária

É justamente o caso de Estelle, 29 anos, que se define como "uma ateia que se coloca perguntas". Crescida sem nenhuma educação religiosa, não batizada, começou a se questionar no ano passado. Sentia uma "falta de espiritualidade" e fez um retiro de silêncio que lhe permitiu "descer profundamente em mim mesma".

O livro de Antoine Nouis permitiu-lhe aprofundar as suas interrogações. "Principalmente, é estranho viver sem se colocar o problema de saber se há uma outra dimensão além da de trabalhar para ganhar dinheiro e gastá-lo. E, depois, por que existe tantas pessoas na Terra que acreditam? Os ateus são uma minoria! Por muito tempo, pensei que os crentes fossem estúpidos que tinham medo da morte. Com esse livro, me dei conta de que as pessoas não acreditam porque têm medo. É uma coisa muito mais complexa e profunda".

Estelle achou muito interessante o ponto em que se fala da liberdade. "Nós somos livres para fazer erros e de dar as costas para Deus. Por isso, existem pessoas ateis como eu. Isso é revolucionário!". Então, Estelle quis aceitar o desafio. Marcou um encontro com o padre da paróquia mais próxima. Mas ao mesmo tempo "tive medo de subverter os meus costumes, de não ser mais eu mesma, de perder os meus amigos. Não desejo arrastar os outros comigo". Ela pensa no seu companheiro, com o qual vive sem ser casada e do qual está grávida. O bebê, "decidimos não batizá-lo". Porém, ela deseja fortemente "continuar o meu próprio caminho, ir além. Tenho vontade de acreditar. Estou a caminho". Desejamos-lhe uma boa viagem.

Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33761

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