A nova lei do divórcio
Bispo Josué Adam Lazier
Está sendo noticiado hoje que o Senado Federal aprovou o divórcio direto, ou seja, tão logo o casal decide-se pela separação poderá formalizar o divórcio e não precisará mais aguardar os prazos de 1 ou 2 anos, conforme o caso. Segundo os proponentes da nova lei, 153 mil pessoas que se divorciam por ano no Brasil serão beneficiadas.
Na verdade, o problema não está na lei, ela apenas reflete uma concepção que se enraíza na sociedade e alcança as pessoas. Segundo estatísticas do último censo do IBGE o número de casamentos civis caiu, no entanto, é crescente o número de famílias que se formam sem atos civis ou mesmo sem as cerimônias religiosas. Infelizmente, esta concepção transmite a idéia de relacionamentos descartáveis e sem afetividade. Ou melhor, enquanto houver a expressão apaixonada dos afetos, as pessoas continuam juntas, mas tão logo as dificuldades do relacionamento se efetivem, a expressão apaixonada se dissipa.Penso, enquanto pastor, bispo e educador, que o casamento e a família são relacionamentos fundamentais para a pessoa. Não quero tratar das questões familiares a partir de manuais e regras, com moralismo, legalismo, pieguismo, ou outros adjetivos. Por isso considero que, mesmo a família e o casamento se constituindo em relacionamento fundamental, haverá dificuldades, crises, conflitos, que estão nos próprios cônjuges ou pessoas da família. Se estas pessoas mudarem para outra família levarão consigo os mesmos problemas.
Eu não compartilho da idéia da “cara metade” ou da incompatibilidade de gênio. Duas pessoas serão sempre diferentes uma da outra, mas serão pessoas inteiras e que convivem com pessoas inteiras. Eu não sou uma metade que encontrou a sua “metade” para formar o todo. Por certo, nesta “sociedade” conjugal entre pessoas diferentes, haverá desencontros, crises, disputas, desentendimentos, pois é impossível que pessoas diferentes que convivam diariamente não experimentem tensões.
Neste sentido, recorro ao que o apóstolo Paulo ensinou aos Coríntios, ou seja, que Deus nos deu o ministério da reconciliação. Existe um caminho e uma opção para as pessoas que estejam em crise em suas vidas familiares: o caminho da reconciliação, que poderá ser difícil, desafiador, mas oportunizará o reencontro e a renovação dos sentimentos e dos afetos. Não estou espiritualizando a reconciliação, mas sim trabalhando com a idéia de que as pessoas têm força para buscar a superação dos seus problemas vivenciais.
No entanto, reconheço que há relacionamentos que se estragam a ponto de não terem mais condições de continuidade. Esta é uma decisão muito difícil de ser tomada e envolve muita emocionalidade. Os sinais da separação e do divórcio acompanham as pessoas por toda a sua vida. Não há ruptura sem dor, sem perda, sem choro, sem machucadura. Considerando isto, a igreja deve trabalhar a questão da família na perspectiva da graça de Deus, pois ela é curadora e renovadora da pessoa em toda a sua integralidade. A ação da graça de Deus é um processo, também doloroso e lento, mas extremamente transformador.
Bem, o tema é a lei do divórcio direto. Lamentavelmente e independentemente do tempo há motivações para o divórcio, tais como infidelidade; desrespeito; menosprezo; violência moral, verbal e, o que é absolutamente inaceitável, violência física. Estas questões acontecem em todas as classes e segmentos sociais, inclusive no âmbito eclesiástico, ou seja, entre pessoas que professam fé e espiritualidade e são tidas como exemplos de vida. Não são poucos os casos desta natureza que envolve pessoas de reconhecida liderança no ambiente eclesiástico.
Portanto, a lei do divórcio é o mal menor. O mal maior está no coração das pessoas, cujo vazio é do tamanho de Deus (segundo o bispo Desmond Tutu).
Fonte: http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricaocolunas.asp?Numero=1872
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