Neste dia de festa, pela narração de Lucas, temos um evento diferente. Estavam todos reunidos e de repente um som, como de um forte vento, se fez ouvir. Línguas como que de fogo, pousam sobre todos os presentes e, daí, todos passam a falar de forma diferente, inspirados pelo Espírito Santo.
Podemos fazer algumas considerações sobre o texto:
1) Aconteceu ali um milagre sem precedentes na história de Israel
Todos os estrangeiros presentes na cidade entendiam perfeitamente o que aquelas pessoas falavam. Foi o primeiro evento com "tradução simultânea" da história.
Aconteceu ali exatamente o oposto do que aconteceu na história da Torre de Babel. Na construção da Torre, que visava um alcance universal, para sacramentar o afastamento de Deus, as línguas foram confundidas para frustrar um propósito humano. No dia de Pentecostes relatado, as línguas foram unidas para universalizar um propósito divino.
2) Os símbolos apontam para a memória de Deus nos presentes
Aquelas pessoas reunidas ali sabiam que Deus se fazia presente no meio do seu povo por meio da sua ruah, do seu espírito, do seu vento, palavras que teriam o mesmo significado.
O fogo, desde sempre se fez presente na história das civilizações, associado às questões do sagrado e das divindades. Os vizinhos de Israel tinham seus cultos com a presença do fogo, com sacrifícios humanos muitas vezes, como com o deus Moloque, a quem eram oferecidas crianças para serem engolidas por uma gaveta em chamas.
O fogo de Deus presente nestas línguas apontou para o Deus da vida e não da morte, todo sacrifício tornou-se inválido diante daquele que queima para purificar, e não para matar.
3) As línguas de fogo
São "metáforas visuais", apontando para a grande capacitação que o Espírito trazia sobre eles naquele momento. A possibilidade de falar como testemunhas autorizadas do mistério da reconciliação dos homens com Deus. Como resultado disto, Pedro levantasse dentre os irmãos e esclarece com autoridade e ousadia o que estava acontecendo; foi o primeiro "sermão" da Igreja.
4) As línguas se repartem
No livro de Números, cap. 11, vemos Moisés acossado pela comunidade no deserto. Uma grande choradeira e murmurações variadas o levam quase ao desespero; sente-se solitário e impotente. Deus responde ao seu clamor dizendo que "repartiria" o Espírito que estava sobre ele com outros 70 anciãos respeitáveis de Israel, e assim foi feito. Alguns destes anciãos, no momento da "partilha", estavam fora do arraial, mas também foram visitados por esta unção. Ao perceber o ocorrido, Josué aborda Moisés insatisfeito, afinal os anciãos que não estavam ali no momento, também profetizaram, fora do arraial, e seria prudente proibir isso. Moisés responde pacificamente: "Quem dera que todo povo do Senhor fosse profeta, que Deus lhes concedesse do seu Espírito".
Esta oração-suspiro-lamento de Moisés se cumpriu neste dia. As línguas foram repartidas entre todos; todo o povo presente ali foi marcado, todos profetizaram, o Espírito foi socializado, acabava a era dos "ungidos privilegiados".
5) As línguas repousaram estavelmente
A profecia de Isaías 11, ao descrever o Messias, tem sua imagem ampliada na comunidade: "Repousará sobre ele o Espírito do Senhor". O Espírito que atua de forma tranquila, sem justificar exageros, comportamentos extremos, violência; aponta para o fruto, para a mansidão da sua presença.
Não seria presença do Espírito apenas em situações especiais de perigo, de livramentos, de ataques dos inimigos; mas presença estável, constante, no cotidiano, em qualquer lugar, para sempre.
Esta "presença estável" em todos seria o foco da unidade, como declarou Paulo: "Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as como lhe convém, a cada um, individualmente." (I Co 10,6)
6) O Espírito se apossa de quem é invadido por Ele
Uma característica do Antigo Testamento, sobre a atuação do Espírito, é que este transformava as pessoas que ungia. Sobre Saul foi profetizado: "O Espírito do Senhor se apossará de ti (te inspirará) e profetizarás (...) e serás mudado em outro homem" (I Sm 10,6). Sobre Davi, quando separado para ser o futuro rei de Israel, temos este relato: "Samuel tomou o chifre de azeite e o ungiu (a Davi) no meio de seus irmãos e, daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apossou dele (o invadiu)." (I Sm 16,13).
CONCLUSÃO
No dia de Pentecoste, no momento da plenitude dos tempos iniciado em Jesus, Deus se doa de forma intensa, se reparte, se apossa; veio para repousar de forma estável "em toda a carne". É verdadeiramente como Caio Fábio descreve em seu livro sobre o Espírito Santo: "O Deus que vive em nós".
Luciano Oliveira
Um comentário:
Que seja assim: Deus em nós, o Emanuel - Deus conosco - qdo nos arrependemos dos pecados que cometemos. Que responsabilidade!
E tudo o que devemos fazer é dizer: 'Venha o Seu reino, seja feita a Sua vontade tanto na terra (a minha alma) como no céu (Seu local de habitação)' em nome de Jesus.
Postar um comentário